Por que as pessoas discriminam e perseguem as religiões de matrizes Africanas?

 



A Umbanda é uma religião que tem mais de uma vertente, é praticada em diferentes países e todas as vertentes têm ligação com a África. No Brasil, entre todas as demais religiões praticadas, as de matrizes africanas são as mais discriminadas e perseguidas. De acordo com informações da Agência Brasil, no primeiro trimestre de 2023 houve um aumento de 87,4% nas ocorrências de casos de intolerância religiosa no Estado de São Paulo, em comparação às ocorrências registradas em 2022 e, segundo a própria Agência, esse aumento pode passar do percentual apurado, uma vez que muitas vítimas não recorrem às autoridades para prestar queixa. No Brasil existem mais de 400 mil umbandistas. 

Para Bartolomeu Vasconcelos Ribeiro, dirigente e presidente do Centro Espirita Legião de Umbanda (CELU), que segundo ele é o terreiro mais antigo de Guaratinguetá e há 69 anos realiza seus trabalhos todas as quintas-feiras no bairro Pedregulho. “A discriminação e a perseguição não deveriam existir em nenhuma situação. A Umbanda prega e pratica o Amor, a Caridade, a Humildade e não faz mal nenhum a ninguém, muito pelo contrário”, explica o dirigente, que é umbandista desde os 12 anos

O dirigente conta que o CELU foi fundado em 1955 e que nessa época o presidente era Hélio Benetti e hoje o terreiro trabalha com às 7 linhas da Umbanda, com os Castiços, com os Marinheiros e com os Boiadeiros. “Castiços são as entidades que viveram na terra, evoluíram e passaram a auxiliar as pessoas por meio da Umbanda e do Candomblé. O Hélio me convidou para ser o presidente, eu aceitei e assumi a Casa em 2021, fizemos o Estatuto da Casa em acordo com a nova Legislação dos Templos, estamos fazendo a reforma da sede e tendemos todos que chegarem no terreiro”, conta o dirigente, que é membro da Associação Sábios da Paz, composta por 30 entidades entre Centros: Espiritas, Umbandistas e Candomblecistas.

O CELU completou 69 anos no último dia 03 de abril e a festa também comemoração o dia de Ogum (São Jorge) com feijoada e muito axé a dos que participaram. Bartolomeu Ribeiro conta que entre 1981 e 1982 foi para o Candomblé Ketu, para aprofundar seus conhecimentos e depois migrou para Águas de Angola. “Fiquei no Candomblé por um tempo, depois abri o Centro Espirita Umbandista Caboclo Ventania em Aparecida”, recorda-se o dirigente, frisando que sempre utilizou o nome “Centro Espirita” para evitar perseguições.

A respeito da Umbanda, Bartolomeu Ribeiro explica que não segue o Zélio Fernandino de Moraes, e sim a Umbanda Omolocô do Tata Tancredo da Silva Pinto. “Na minha concepção o Zélio juntou diferentes religiões para anunciar a Umbanda. Para mim e a verdadeira Umbanda é a do Tata Tancredo que criou a Festa de Iemanjá, fundou a 1ª Federação Umbandista do Brasil, é o compositor da música General da Banda, que fez um grande sucesso no Brasil, lhe rendeu muito dinheiro e, ele colocou tudo na Umbanda”, disse Bartolomeu Ribeiro.

O babalorixá Gabriel Dacc, do Terreiro Macumba Rei da Montanha, que também realiza seus trabalhos no bairro Pedregulho, frisa que seu terreiro leva este nome para resgatar o termo Macumba das mãos dos algozes (aquele que executa pena matando, torturando ou castigando outras pessoas) que tentaram transformar a Macumba em um termo pejorativo. “É sabido historicamente que a Macumba Carioca é uma religião que deu origem a Umbanda. A Macumba ecumênica surge como forma de resistência à perseguição das religiões marginalizadas, desde a Cabula até a Pajelança Indígena Brasileira. Posteriormente, como tentativa de sujar o nome da Macumba, os perseguidores demonizaram o nome, mas a religião nunca foi ruim ou maligna, não há relação da Macumba com o maligno, mal é aquele que demoniza a religião alheia”, alerta o babalorixá explicando que o nome "Rei da Montanha" vem da junção de dois chefes do terreiro que é dirigente, o preto velho Rei Congo e o orixá Xangô. “Nossos atendimentos às pessoas que veem a nossa Casa são com Orixás, Exu, Pomba Gira, Exu Mirim, Caboclo, Preto Velho, Ciganos, Boiadeiros, Malandros, Erês, Ancestrais, dentro da tradicional Macumba Carioca, que traz elementos da kimbanda originária, que não tem nada a ver com demônios ou espíritos malignos, e também elementos que posteriormente se torna a Umbanda Omoloko” explicou Gabriel Dacc, refletindo que o mais importante de sua religião é trazer luz e paz para quem as busca. “Para meus filhos, é trazer instrução e autonomia para que um dia não necessitem de mim para nada e possam ter suas próprias casas”, concluiu o babalorixá.

A Umbanda chegou a ter uma Faculdade de Teologia Umbandista em São Paulo entre 2003 a 2016, tendo mais de 54 mil alunos, mais de 710 docentes com um curso de graduação e 380 de pós-graduação.  

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