Por Fábio Ivo Antunes Advogado especialista em Direito Eleitoral e Membro da ABRADEP – Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político e integrante da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/SP.
Salve-se quem puder
O tema atual na sociedade brasileira
é o julgamento promovido pela 1ª Turma do STF sobre a alegada tentativa de
Golpe de Estado no Brasil após as Eleições de 2022. Oito réus integram o
“núcleo duro”. Seriam os grandes responsáveis por tentarem articular o que,
felizmente, ficou na tentativa frustrada.
Os dois primeiros dias de julgamento
cumpriram o rito do que era esperado. Relatório dos autos lido pelo Ministro
Relator, que deixou – intencionalmente – frases e colocações perfeitas para
manchetes e que induzem o que deverá ser a conclusão de seu voto. Após, em sua
sustentação oral, o Procurador-geral da República reiterou os termos da
acusação e requereu a condenação de todos.
Porém, fora as teses defensivas que
se destacaram. Ao ouvir detalhadamente todas as sustentações orais proferidas
pelos advogados dos réus, todas elas chamam a atenção por parte da linha de
defesa em comum: não negam expressamente a existência de uma tentativa de
golpe, mas que seus clientes nada tinham a ver com os fatos narrados ou que não
existem provas que os ligariam aos crimes imputados.
Transpareceu, claramente, um
“salve-se quem puder”.
A defesa de General Heleno afirmou
claramente que seu cliente sequer estava próximo da Presidência da República no
período investigado, incluindo fatos políticos que comprovariam sua tese. Já a
defesa do então Ministro da Defesa, também um General do Exército, foi clara em
dizer que seu cliente atuou para “demover – o ex-Presidente Bolsonaro - de
adotar qualquer medida de exceção”. Me salvo, mas jogo o outro na fogueira.
Antes mesmo do início do julgamento,
ainda em 2024, o próprio advogado de defesa do ex-Presidente afirmou em
entrevista à CNN: “existem indícios absolutamente claros a respeito de uma
tentativa de Golpe de Estado. Eu não tenho dúvidas disso. (...) Tem um General
confirmando a existência de um Golpe”.
O ponto está: todos defendem que não
tiveram qualquer ligação com tais fatos. Juridicamente estão corretos e atuando
para defender aqueles que os contrataram. É assim e deve ser assim.
Ultrapassando os limites jurídicos, mas em um julgamento que atrai a atenção de
todo o país e da imprensa internacional, como explicar que houve uma tentativa,
mas ninguém ali teve relação ou ação?
A tarefa dos causídicos foi árdua.
Vários ali mostraram sua competência para defender seus clientes e honrar seus
honorários. Porém, não acredito que o bastante para convencer tecnicamente o
Tribunal.
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